Livro O Apanhador no Campo de Centeio: é bom? (resenha completa)

Atualizado em 7 de junho de 2025 por Natália

Na verdade, eu nunca tinha ouvido falar em J.D. Salinger. Nem no autor, nem no livro O Apanhador no Campo de Centeio.

Só fui me interessar por ele depois que assisti ao filme O Rebelde no Campo de Centeio, inspirado no livro J.D. Salinger: A Life, de Kenneth Slawenski, que conta a trajetória do autor.

O filme mostra desde a juventude rebelde de Salinger até sua experiência como soldado na Segunda Guerra, o impacto que isso teve na sua mente e como os traumas, perdas e relacionamentos influenciaram diretamente a criação do seu livro mais famoso: O Apanhador no Campo de Centeio.

O jeito do Salinger, tão inquieto, fechado e ao mesmo tempo cheio de profundidade, me despertou uma curiosidade. Eu queria entender o que havia por trás daquele autor e por que esse livro era tão famoso.

E foi por isso que decidi comprar o livro mesmo sem saber exatamente do que se tratava, fiquei curiosa para conhecer.

Se você quer saber se o livro O Apanhador no Campo de Centeio é bom e se vale a pena comprar, aqui está minha resenha. No fim, claro, você tira suas próprias conclusões.

livro o apanhador no campo de centeio

É Natal, e Holden Caulfield está estudando em uma escola preparatória chamada Pencey, daquelas voltadas para a elite, que preparam os alunos para universidades de prestígio. Holden não se encaixa nesse ambiente, que ele vive chamando de “fajuto”.

Ele está prestes a ser expulso da escola e decide sair antes da hora. Com alguns trocados no bolso e seu boné vermelho de caçador, ele resolve passar três dias vagando por Nova York, encontrando pessoas de todo tipo, revivendo memórias, se metendo em brigas e, principalmente, pensando demais.

Tudo isso enquanto espera que seus pais descubram que ele foi expulso mais uma vez.

O livro é isso: uma imersão intensa na mente de um jovem confuso, irritado, sensível e cheio de opiniões. Holden é crítico, contraditório, irônico. Ele detesta tudo o que considera falso nas pessoas, mas, ao mesmo tempo, parece faminto por alguma conexão verdadeira.

Em meio a tudo isso, ele fala bastante sobre a irmãzinha, Phoebe — uma das poucas pessoas em quem ele realmente confia. É como se, nela, ainda existisse algo puro e verdadeiro, sem essa falsidade que ele tanto critica nos adultos.

Esses três dias em Nova York são caóticos e tocantes. E mesmo sem dar spoilers, posso dizer: você se sente junto com ele, como se estivesse dentro da cabeça do Holden, ouvindo tudo sem filtro — um desabafo real sobre tudo.

Holden é um cara muito engraçado. Em vários momentos, eu dei muita risada. Tem uma parte do livro em que ele se cansava de responder perguntas sobre a própria vida e começava a inventar histórias sobre ele e sobre os outros, só pra passar o tempo ou escapar da realidade.

E depois se arrependia de ter mentido. Tem um pouco de humor triste nisso e foi exatamente isso que achei engraçado dentro do contexto.

Em outro momento ele só queria desaparecer, fugir, viver nas montanhas. E, isso bate exatamente com a própria vida de Saliger, que se afastou do mundo e escolheu o isolamento depois do sucesso do livro.

Os pensamentos do Holden têm aquele estilo bem de jovem rebelde — sabe aquele tipo que não quer saber da sua opinião porque já tem as próprias convicções?

É exatamente isso. Ele é crítico, irônico, meio ranzinza… mas muito verdadeiro. E isso torna tudo muito interessante.

O jeito como ele enxerga as pessoas e o mundo é carregado de desconfiança. Pra ele, quase todo mundo é “fajuto”, ou seja, falso. Mas o amor que ele sente pela irmãzinha Phoebe é uma das coisas mais bonitas e sinceras do livro.

Parece que ela é uma das poucas pessoas em quem ele realmente acredita, talvez por ainda ser pura, inocente e sem máscaras.

Enquanto eu lia, ficava pensando no quanto o Salinger escrevia bem. Não só pelos diálogos (que são ótimos e naturais), mas pela forma como ele entra na cabeça do Holden.

Ele não conta só o que está acontecendo, ele mostra o que o personagem está pensando, o tempo todo. E isso dá uma sensação de intimidade, como se a gente estivesse realmente ouvindo o Holden pensar em voz alta. Muito bom.

São tantos pensamentos que, às vezes, minha cabeça ficava cheia, e eu precisava parar a leitura um pouco… só pra pensar também.

Quem foi J. D. Salinger?

Salinger foi um escritor americano que viveu muita coisa intensa. Serviu na Segunda Guerra Mundial, trabalhou em jornal, teve alguns relacionamentos complicados e, depois que o livro fez sucesso, simplesmente sumiu. Escolheu viver isolado, sem dar entrevistas ou aparecer. E isso me chamou atenção. Parece que ele se cansou do mundo.

O Apanhador no Campo de Centeio foi lançado em 1951 e se tornou um dos livros mais vendidos da história, com mais de 65 milhões de cópias. Foi o único romance que ele publicou — e isso já foi suficiente pra torná-lo mundialmente conhecido.

Depois que li o livro, entendi melhor: o Holden, personagem principal, tem muito do próprio Salinger. Os dois têm esse jeito meio rebelde, meio exausto das pessoas. É como se ele tivesse colocado tudo o que sentia naquele personagem.

Salinger morreu em 2010, aos 91 anos. Até hoje, muita gente se pergunta o que mais ele escreveu — já que há rumores de que continuou escrevendo em segredo, sem nunca publicar.

O que o livro me fez pensar?

O livro me trouxe duas percepções. A primeira foi bem pessoal: me fez pensar que, quando a gente é perseguido ou alguém pisa na bola com a gente, dependendo da nossa maturidade, a gente acaba criando um bloqueio contra as pessoas.

E que, quando somos jovens, parece que não temos que escutar ninguém, porque achamos que já sabemos de tudo. É tipo aquela fase rebelde que todo mundo passa quando é mais novo — e só depois, com o tempo, a gente começa a entender melhor as coisas.

Sabe aquela frase “na minha época não era assim”, que a gente torce o nariz e pensa “puta merda, lá vem…”? Pois é, um dia a gente se pega repetindo ela também.

A segunda percepção veio depois, já no final da leitura: O Apanhador no Campo de Centeio fala também sobre o fim da inocência. E talvez seja por isso que, com o tempo, a gente vai ficando mais desconfiado, mais fechado, mais crítico.

A infância vai ficando para trás, e o mundo começa a parecer mais falso, mais cheio de gente fingindo ser o que não é. O Holden sente isso o tempo todo e tenta, do jeito dele, se proteger. Como se ainda quisesse guardar um pedaço do mundo onde tudo fosse mais puro, mais sincero, mais honesto.

Esse livro é para todo mundo ou para um tipo específico de leitor?

Por mais que o livro seja voltado para o público jovem, eu acho que quem mais aproveita a leitura são as pessoas a partir dos 28 anos. Pelo menos, essa é a minha opinião.

Depois de certa idade, a gente entende melhor os conflitos do Holden e consegue enxergar com mais clareza o que está por trás de toda aquela rebeldia.

Uma coisa importante de dizer: apesar de ter momentos leves, o livro não é fácil. Ele mostra um adolescente confuso, às vezes deprimido, lidando com sentimentos pesados. E embora muita gente (inclusive eu) ache interessante ver o mundo pelos olhos do Holden, é bom saber que a leitura pode ser desconfortável em alguns pontos.

Então, se você não estiver muito bem de cabeça, eu não recomendo.

Inclusive, o livro já foi considerado polêmico por abordar temas como solidão, prostituição, uso de álcool e até insinuações de abuso.

Em algumas situações extremas, foi citado por criminosos como Mark David Chapman (assassino de John Lennon) e Robert John Bardo (que matou a atriz Rebecca Schaeffer). Ambos mencionaram o livro após os crimes, o que levantou questionamentos sobre a influência da obra.

Alguns autores afirmam que, em mãos erradas, a raiva do personagem pode ser mal interpretada como justificativa para atitudes violentas.

Eu, sinceramente, não senti isso — pra mim, não teve esse significado. Mas achei importante comentar esse lado mais controverso que envolve a obra.

No fim das contas, acho que cada um vai ter uma experiência diferente com esse livro. O Holden pode irritar, emocionar, fazer pensar. Comigo, aconteceu tudo isso junto. Pra mim, valeu muito a pena comprar e ler — e, além de tudo, é um clássico da literatura e a capa é linda!

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E você, já leu? Teve a mesma sensação que eu ou viu tudo de outro jeito?

Obrigada por ler até aqui!

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